Enfermidades

As principais doenças acometidas por animais domésticos e de criação.
29 Nov 2012
Brucelose Canina

          Os cães apresentam hoje uma inserção muito grande na sociedade, o que gera preocupação em relação à sanidade desses animais. Nesse contexto, atenção deve ser dada à brucelose canina, enfermidade bacteriana prevalente no Brasil que acarreta problemas reprodutivos em machos e fêmeas, prejuízos ao criador de cães e ainda causa importante zoonose.  Para controle e erradicação da brucelose canina é fundamental a implementação de um correto diagnóstico.

 
TRANSMISSÃO E PATOGENIA
 
         A forma de transmissão mais comum é a ingestão ou inalação de aerossóis provenientes de material abortado ou de secreções de abortamentos. Também pode ocorrer de forma venérea através do sêmem, pois alberga uma grande quantidade de bactérias, principalmente entre 3 e 11 semanas pós-infecção, sendo esta a via mais freqüente no caso de transmissão de machos para fêmeas durante o coito.
Em animais infectados, é possível isolar o agente de secreção salivar, secreção vaginal de fêmeas fora do período de cio e  do leite, sendo poucos microrganismos encontrados na urina, principalmente em fêmeas. Machos infectados agudamente podem conter na urina cerca de 100 Brucella canis /ml.
Após a penetração do agente no organismo, a bactéria é fagocitada por macrófagos e outras células do sistema imune e transportada para os linfonodos, ocasionando linfoadenopatia transitória. A partir do sistema linfático, a bactéria atinge a circulação sangüínea, acarretando bacteremia. A bactéria replica-se no interior de leucócitos ou nos tecidos linfóides, como fígado, baço e linfonodos, podendo provocar hiperglobulinemia. Os órgãos reprodutivos infectados são apenas o útero em cadelas prenhes (tecido gonadal de dependência esteroidogênica) e os testículos, epidídimos e próstata de cães machos. Nas fêmeas aBrucella canis coloniza as células epiteliais da placenta, levando ao óbito embrionário ou fetal e aborto. As cadelas podem levar a gestação adiante, parindo tanto filhotes mortos como vivos na mesma ninhada. Entretanto, os filhotes vivos geralmente morrem em poucas horas ou dias. Cadelas não prenhes não mostram sinais de infecção, porém podem albergar a bactéria na urina e em secreções vaginais.
         A ocorrência de orquite não é sinal tão comum em brucelose como a epididimite; porém, é possível encontrar inflamação, alteração na espermatogênese, fibrose e, em casos avançados, atrofia testicular com severo comprometimento da função reprodutiva. A persistência do agente em epidídimo e próstata faz com que a urina seja a principal via de eliminação em machos. Todavia, a Brucella canis não causa sintomas clínicos de alterações prostáticas. Casos de uveíte, espondilose, meningite, glomerulonefrite e dermatite piogranulomatosa decorrentes de infecção por Brucella canis já foram descritos na literatura. Embora a infecção por Brucella canis seja sistêmica, os cães infectados não apresentarão uma doença sistêmica ou generalizada.
 
 
SINTOMAS
            Em cães adultos, a infecção não promove alterações clínicas evidentes. No curso inicial da doença pode ocorrer linfoadenopatia em ambos os sexos, raramente acompanhada de febre.
O sinal clínico mais clássico é o aborto entre 30 a 50 dias de gestação (duas semanas antes da data programada para parição), sem alteração significante no ciclo estral. Após o abortamento, a fêmea apresenta descarga vaginal de secreção serosanguinolenta ou esverdeada durante 1 a 6 semanas. Normalmente, tanto o feto abortado quanto os tecidos placentários estão autolisados, apresentando edema subcutâneo, congestão e hemorragia subcutânea em região abdominal. Embora o abortamento no terço final seja a forma clássica, a interrupção da gestação pode ocorrer em qualquer fase, inclusive morte embrionária precoce. Desta forma, há queixa de infertilidade, pois a perda embrionária é imperceptível para o proprietário da fêmea. Quando a gestação progride a termo, os filhotes podem nascer fracos e morrerem em pouco tempo.
         Em relação ao macho, alterações nos parâmetros seminais podem ser observadas, como por exemplo, defeitos espermáticos, diminuição da motilidade e da concentração espermáticas e do volume do ejaculado. A alteração na qualidade seminal pode ser detectada a partir de 5 semanas pós-infecção, atingindo máxima intensidade na 8ª semana. Nas fases iniciais da doença é possível evidenciar edema escrotal (acúmulo de fluido sero-sanguinolento entre as túnicas) e em epidídimo, além de dermatopatias na bolsa escrotal. Em casos crônicos, os testículos tornam-se atróficos e o ejaculado possui células inflamatórias e pequeno número de espermatozóides, ou mesmo azospermia. Desta forma, o mais evidente sinal clínico em machos infectados é a infertilidade, acompanhada de alterações nos parâmetros do espermograma.
 
         O médico veterinário deve ressaltar aos criadores de cães a importância de sempre realizar o exame para Brucelose canina principalmente quando há a intenção de reproduzir/cruzar os cães tanto machos quanto fêmeas como método preventivo, de forma a:
·         Evitar prejuízos na reprodução dos cães com a perda das ninhadas;
·         Prevenir a disseminação da Brucelose entre animais livres da doença visto que a doença vem se espalhando sem os criadores saberem;
·         Administrar medicação específica assim que a doença for diagnosticada;
 
 
Imagem2: Cão com orquite.
Fonte: Foto retirada do site da Universidade da Geórgia.
                                               
DIAGNÓSTICO
 
          O diagnóstico clínico deve se basear no histórico e em evidências epidemiológicas associadas aos achados clínicos. No entanto, para confirmação, torna-se necessária a realização de análises laboratoriais complementares.
          Para o diagnóstico pode ser utilizadas várias técnicas, dentre elas o Diagnóstico de Brucelose Canina (método: Imunodifufusão em gel de ágar – IDGA), a Eletroforese de proteínas (evidenciação de gama e betaglobulinemia), dosagem deAlbumina sérica e a Histopatologia de órgãos linfóides e Necropsia.
          Para a realização da sorologia e eletroforese de proteínas é necessária a coleta de 3,0 mL de sangue total em tubo sem anticoagulante (tampa vermelha). Para a análise histopatológica, vale lembrar que há necessidade de se fixar a amostra de tecido logo após a coleta em solução de formalina tamponada a 10%.
         É importante ressaltar que animais infectados por menos de 4 a 12 semanas podem apresentar resultado falso negativo, além disto, os testes sorológicos devem ser conduzidos mensalmente até que a infecção seja completamente eliminada, ou seja, até o momento em que 3 testes sorológicos consecutivos resultarem negativos para cada animal